Acordou e sentiu o peso do seu corpo na cama. Saber de si é sentir o que te puxa para baixo. Às vezes as tuas pernas se aderem ao colchão e aos lençois, como se fosse da mesma natureza: macia e densa. Levantou e veio em sua mente: “Todo dia ela faz tudo sempre igual, me sacode às seis horas da manhã… “. Não tem outro para chamar de bem. Sacudiu apenas a si.
Por instantes, puxou uma corda solta vinda do alto e assegurava que estava rumo a cima. Até que a corda desmoronou sobre a cabeça. Quando se imagina estar sendo salva é quando se afunda um pouco mais.
Pela primeira vez, não desejou ser salva. Ninguém vai salvá-la, nem mesmo tuas vãs filosofias.
Que raios isso de vir coisas do céu. Deus.. que raios inventaram você no céu? Este lugar puro, límpido. E pergunta com seus pés afundados na lama.
Prefere um Deus que nasça do solo.
Dizem que o membro mais importante do corpo é o pé. Ela e o George Bataille com o seu dedão do pé. Claro, e as raízes! Ignóbeis raízes que fervilham nuas como vermes e abrem caminhos pegajosos no interior do solo.
Afirmar-se terra. Entrar em si. Sabe que as suas horas impregnadas com a dilatação do seu sentir é o tom mais saboroso da sua vida. Na penumbra da existência, as palavras e as danças ficam ocultas como sonhos. Ela se elege como quem escava a si e desgarra do próprio vício de ser ela e se depara com outras em si. Raízes de si!
Imagens: Canva
Referencias bibliográficas:
Bataille, George. O dedão do pé.
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