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Ser artista e produtora do próprio evento de Arte: como conciliar?

ana luisa Moraes

Comecei a semana me debruçando numa pesquisa e numa escrita sobre um tema muito caro pra mim:  arte e processos de criação. Amor sem fim!!


No entanto, assim como arte é um processo mais vital e visceral, acabei por agregar um assunto que me fez acordar subitamente às 3h58 da manhã. Pra mim isso já é uma manifestação artística do viver. Aquilo que está me atravessando no momento, sem fingir. Então, o meu texto acabou ganhando outros caminhos e por um viés  que respiro muito atualmente: a relação e a conexão entre a vida de artista e de produtora do meu próprio evento de arte.  A princípio, ambas as funções me soaram completamente diferentes e me estressaram um tanto. Até que elas se integraram. Esse texto fala sobre isto!!



Produzir um evento  exige os dois  pés na execução de detalhes: criar materiais de imagens, vendas, divulgação, comunicação.  De alguma forma, esse papel tem intenções, objetividades e racionalidades. E pra mim o ser artista pega uma via completamente oposta.  E não estou dizendo apenas na apresentação em si, mas em todo o processo de me preparar que é um rico processo de criação de dias e dias, desde o momento em que sei que vou dançar. Para vocês saberem da profundidade da próxima performance, o Manifesto Sensorial , é sobre me despetalar e sobre revelar o que há de mais sutil no corpo. Chamo de corpo em “Ondas”: já que acesso camadas extremamentes delicadas e que para senti-las é necessário abrir um espaço perceptivo profundo que não vem de uma ação intencional, nem muscular, no contrario, vem de uma espécie de desligamento dos pensamentos e entrada num vazio sutil.


E a pergunta que me assolava no amanhecer é como me preparar para algo tão desprovido de intenções e pensamentos ao mesmo instante em que sou produtora do mesmo evento?


Apenas o fato de me dedicar esse tema aqui na escrita já me trouxe um direcionamento. ... E comecei a elaborar  uma raiz da resolução dessa questão que me parecia vir de fatos tão antagônicos.


Senti que a minha tarefa agora é soltar o controle da produtora. Fazer o Palco Intimista sem  intenções.  Ser inteira na produção!! Ser Analu artista também na produção!! Fazer o que tem que ser feito com muito primor, concentração, pensamentos e soltar!!! Trazer potência de corpo em ambas as ações!!!


 E será que na vida toda, em cada ação, no fundo não é mais interessante sermos assim?


Fazer do desejo de criar o Manifesto também o desejo de criar o Palco Intimista!!  Ambos como arte!!! Deixar me ser permeada por essa  febre vaga  e essa alegria que assola os artistas. Permitir que a minha abertura para os mistérios da vida se sobreponha as  tensões de querer cumprir metas e mais metas...


A necessidade do fazer artístico, neste duplo sentido,  é pelo fazer, corporificando-me pela alegria de criação. É lançar-se sem saber, sem querer recompensas. Escrever sem mapas desgastados e com uma espécie de fé experimental.


Agora vou pegar emprestado o dizer do mago Bob Dylan a qual sou muito fã:


“Eu podia transcender as limitações. Não estava em busca de dinheiro, nem de amor. Tinha um senso de percepção ampliado, estava firme no meu rumo; para completar era inexperiente e visionário. Minha mente estava forte como uma armadilha, e eu não precisava de garantias nenhuma”  (in Crônicas, volume 1).


Imagem de Gustavo Jannini.

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