Arte erótica e o espanto
- ana luisa Moraes
- 26 de out.
- 2 min de leitura

A arte erótica provoca calor, estranhamentos e, por vezes, repulsa. No meu ver e na minha predileção, toda arte que causa estranhamento é a arte que nos provoca, nos remexe, revira e transforma.
Arte não é para entreter. Arte não é para nos distrair. Arte não é paliativa nem decoração. Arte é para evocar nossos espantos. É para que você se olhe através das suas sombras e se destitua das suas certezas. A vida é complexa, visceral, cheia de dobras e desconfortos.
Como já dizia Lygia Clark:
"A arte não consiste mais em um objeto para você olhar, achar bonito, mas para uma preparação para a vida."
E mais espanto ainda, imagino, quando se junta arte deste tom com o erotismo.
Numa sociedade em que muitas vezes o erótico é destituído de poesia — onde é corpo pelo corpo, bunda apenas pela bunda, sem sentimentos —, o erótico e a arte promovem uma integração. Não se trata de não mostrar a bunda... longe desse moralismo. E sabe, adentrando agora uma discussão paralela, acho que a questão não é a pornografia, pois entendo por pornografia aquilo que é literal. O ruim é deixar apenas o literal dos corpos sem integrar contextos sentimentais. Sem integrar corpos reais. E, principalmente, sem dar ação real ao campo da mulher.
A arte erótica é o desabrochar do prazer, com beleza e animalidade. Ela integra o campo do desejo com a potência da possibilidade humana de produzir uma estética. E, se pegarmos o suprassumo da palavra "estética", chegamos a uma exploração e a um refinamento dos sentidos. A arte erótica torna-se, portanto, uma perspectiva carnal de, ao mesmo tempo, sentir desejo e elevação. Assombros e delícias. E, acima de tudo, um campo de aperfeiçoamento sensorial e emocional.
Texto: Por AnaLu Moraes
Fotografia: Gustavo Jannini.



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